Total de visualizações de página

domingo, 30 de outubro de 2016

Filme: O inimigo da Turma



O inimigo da turma de Rok Bicek, filme esloveno de 2013, foi baseado nas próprias experiências do roteirista, quando cursava o ensino médio .Esse filme aborda um tema polêmico e profundo como pano de fundo : o suicídio. Porque alguns temas como sexo e morte geralmente são tão difíceis de se abordar? Na psicanálise, desde sempre, sabemos que sexo e morte são temáticas enigmáticas para todos os sujeitos, cada um tem que encontrar seus próprios significantes para lidar com essas questões existenciais e inexoráveis para todos.
A partir dessa breve introdução, vamos ao filme. O enredo acontece em uma escola particular de ensino médio na Eslovênia, em que uma professor grávida será substituída em função de sua licença maternidade. Acompanhamos como espectadores, os alunos recebendo o novo professor Robert, que lecionará  alemão. Alto, magro, elegante, sério, meio frio e pouco receptivo , ele assume a turma e utiliza o escritor Thomas Mann para ilustrar o conteúdo da disciplina.
Muito exigente, tem como uma das normas  em sala, que os alunos  só falem alemão . Um dia, depois do horário da aula, Robert ouve em uma sala o som de um piano, entra, para e escuta uma de suas alunas, Sabina tocando.
Em outro momento, ele conversa com Sabina e pergunta o que ela quer ser, e sugere de forma pragmática, fria e meio desajeitada, que ela deveria tocar piano, pois tocava muito bem. Sabina sai da sala correndo e muito abalada, vai para o banheiro, chora e fala que encontrou o professor para as colegas, porém sem contar os detalhes.
No dia seguinte, quando turma iria começar  assistir a aula,  é surpreendida pela notícia dada pelo professor,  que Sabina havia cometido suicídio.
Vemos toda a turma em choque, com exceção de um aluno. Aí começa o drama do filme. O professor, apesar de sua maturidade, de possuir muito controle emocional e coerência em suas atitudes, falta-lhe sensibilidade e compaixão, para se colocar no lugar dos alunos, que naquele momento tão delicado, precisavam falar e expressar o que sentiam em relação a morte da colega. No entanto, não há transferência por parte dos alunos em relação ao professor. Sabe-se que a transferência é essencial para um processo de confiança e abertura, sem essa condição, não haverá troca e disponibilidade para se abordar a dor, tristeza ou raiva. Quero fazer um rápido parênteses , em relação ao filme, e contar o que vivenciei nessa mesma semana que assisti a esse filme. Alguns dias antes de assistir ao filme, fui informada que um aluno nosso, na Faculdade que leciono tinha se suicidado. Falei com uma colega que era mais próxima da turma, que era importante, os alunos terem um momento para falarem dos sentimentos que estavam sentindo em relação ao acontecido. Paulo, o aluno que se suicidou era alegre, amigável, carinhoso e atencioso com todos. Minha colega não só concordou, como me pediu para que fosse conversar com a turma. No dia combinado, fui ver a turma, todos estavam muito abalados, vários alunos chorando. Não quero me estender, mas, poder estar no lugar do outro, é tentar sentir e entender sua dor.  Só assim podemos, ser úteis e dar espaço para o outro falar, chorar e expressar sua dor. Não adianta, querer racionalizar, como faz a psicóloga no filme, explicando as fases do luto, ou simplificar como fez o professor, com sua frase: “a vida continua”. Sem dúvida a vida continua, mas como ela continuará? Voltando ao filme, sem espaço para falar, os alunos começam a atuar sua dor, as pressões que vivem, suas angústias e sua revolta com o que aconteceu com Sabina. Como é comum, costumamos  procurar um culpado para justificar situações injustificáveis como por exemplo, o suicídio. E, como vimos em Psicologia das Massas, texto de Freud de  1921, é característica dos grupos, a identificação, e, no filme, percebemos como a influência de um dos alunos que havia perdido a mãe recentemente, envolve vários colegas em relação a culpa e ofensas a Robert. A maioria da turma passa a culpar o professor, pois a colega se matou um dia depois do episódio na sala do piano. Robert vira “o bode expiatório” para tudo que eles vivem, a revolta com o sistema de educação, a exigência das notas e por fim, a morte de Sabina. É como se, aquela morte fosse a gota d’água para o copo  transbordar. Quanto mais o professor fica indiferente a revolta e acusações dos alunos, mas eles comparecem com atos de ofensas, agressividade oral, a ponto deles utilizarem o significante “Nazi” para ofender Robert.
A situação chega no limite quando os alunos se trancam no estúdio da escola, e transmitem para todos, o que sentem em relação a morte da amiga, ofendem o professor e colocam o áudio  da música que a colega tocou no piano, um dia antes de morrer, para a escola inteira ouvir.
 Os alunos incansáveis, comparecem à aula, todos, menos um (que não se envolvia com o grupo), com uma máscara representando o rostro de Sabina e deixam uma máscara para Robert em cima de sua mesa. Nesse momento, o professor surpreende a todos, pois entra na sala, também coloca a mascara. Em seguida pede uma aluna, a melhor amiga de Sabina, que leia o texto que ela redigiu sobre a morte da colega. O texto é forte, cheio de emoção e muito verdadeiro, pois nele, ela expõe sua dor e sua raiva por Sabina ter morrido. A disponibilidade do professor em se colocar um pouco no lugar dos alunos que estavam sofrendo e pedindo atenção, finalmente comparece quando Robert coloca a máscara e, em seguida, solicitando à colega que lesse seu texto tão tocante e profundo. Embora tardio esse movimento dele, pois foi necessário tanto barulho dos alunos para serem ouvidos, surte um efeito na turma. Algo mudou e permite  que eles possam pela primeira vez, ao invés de ofender e acusar, abrir um espaço simbólico, e falar do assunto, embora apresentando ainda uma carga de agressividade intensa, porém,  as emoções podem ser expressadas e não só atuadas reativamente.
Esse filme, é excelente, para percebermos, o quanto a fala é fundamental, ou seja, o simbólico, é o primeiro passo para tentar dar um pouco de contorno ao real, que sempre nos surpreende e pode ser traumático e  mortífero, não só para quem escolheu a morte, como no caso da Sabina, mas também para seus colegas, que ficaram vivos, mas teriam que conviver com sua ausência. Em uma de suas aulas, Robert conta aos alunos que Thomas Mann, escritor alemão que é estudado por eles, também teve um filho que se suicidou e que essa tragédia iria influenciar sua escrita e seus livros posteriores,  depois, parafraseia uma célebre frase do autor:

 “A morte de um homem afeta mais quem fica do que a ele próprio.” Thomas Mann

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Meu "debut" na Amazon, estão todos convidados a me visitar lá também.

Caros leitores, retirei algumas postagens do Blog, porque as publiquei no site:
Criei a série: Cinema e Psicanálise:
Textos de uma cinéfila que ama a psicanálise- Um olhar além das câmeras
Os textos estão a venda a preço mínimo de 0,99 $ a 1,0 $
Minha intenção com nesse veículo de publicação é ampliar a divulgação dos meus textos, pois, a Amazon tem um grande alcance no Brasil e no mundo.Espero a visita de vocês lá na Amazon.
Obrigada a todos que dispensam seu tempo e atenção às minhas publicações nesse blog.