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quarta-feira, 14 de junho de 2017

Capitão Fantástico, o conflito entre ideal e o real




Esse longa produzido em 2016 e dirigido por Matt Ross nos apresenta um drama bem peculiar.
O casal, Ben e Leslie decide ir morar na floresta com o filho Bo,  o intuito era de curar a doença da esposa ( bipolaridade).
Leslie acreditava que longe de tudo e de todos poderia se sentir bem. No entanto, percebemos também que o casal é contra cultura, contra o capitalismo e tudo que dita o Discurso do Capitalista.
Ambos educam as crianças em todos os sentidos, pois, eles não frequentam a escola e nem têm acesso ao mundo civilizado. Os seis filhos passam por treinamentos como escalar montanhas, caçar e também tocam instrumentos musicais. As crianças são cultas, inteligentes e possuem uma bagagem acadêmica invejável. Tudo parece perfeito, até que a mãe internada em um hospital psiquiátrico morre. Essa irrupção do real fará com que a família reavalie seu presente e seu futuro.
É interessante ressaltar que apesar da educação acadêmica impecável é notório a falta de experiência, de troca com os outros, tornando a família muito coesa, porém muito isolada e privada de viver o inusitado, o contato com o outro e o que isso provoca em cada sujeito. Vemos adolescentes profundamente ingênuos e alienados ao mundo que vivem.
Ben  com seu discurso anti capitalista, nos mostra que tudo levado ao extremo, inclusive posicionamentos e ideias pode ser perigoso. Na vida e no mundo tudo pode ser relativizado e isso infelizmente, Ben não conseguiu transmitir aos filhos. A partir da morte da esposa, ele tem que entrar em contato com as diferenças da família de Leslie, que era rica e filha única, para poder participar do enterro dela. Isso leva a um encontro com os sogros que expõe a gritante barreira entre o mundo real e o ideal.
O que me chamou também muita atenção no filme foi a fantasia de cura que ambos tiveram em relação a doença de Leslie quando ingenuamente se isolaram na floresta. Claro que Leslie sem acesso ao um tratamento continuou doente e submeteu a família a conviver com sua doença até a sua internação. É… A realidade por vezes é dura mesmo, e a saída pelo imaginário é uma forma de contornar esse real irredutível.
Outro ponto que também quero ressaltar é a função paterna exercida por Ben, ele sem dúvida instaurou a lei simbólica para os filhos e apesar do esforço grande em criar filhos, ao lado de alguém com uma estrutura psíquica frágil, exerce sua função de uma forma amorosa, presente se tornando uma referência simbólica para seus filhos.
No final, constatamos o quanto esse pai, apesar de alguns erros cometidos, como todos nós, que somos falhos, pode ser humilde, consciente e principalmente amoroso para perceber o que precisava ser mudado para que sua família pudesse acompanhar o mundo real e não idealizado. Todos nós temos nossas identificações e certezas, porém, durante a vida, somos diversas vezes convocados a revê-las, reconsidera- las e até abandoná-las. Nossas identificações nos norteiam, mas não são definitivas, ainda bem, pois, essa elasticidade nos permite conhecer, admirar e expandir sempre enquanto vivermos.

Finalmente, Ben pode relativizar  seus ideais, seus valores e até deixar seus filhos escolherem seus próprios caminhos. Não é isso que os pais tentam ao educarem seus filhos, mostrar os vários pontos de vista, transmitir a lei simbólica, propiciar a falta,  para que o desejo compareça e aí escolham seus caminhos para o tornarem reais?

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